segunda-feira, 21 de novembro de 2011

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Quem dera, ao menos, saber escrever poesia. No mínimo colocar em palavras, o que eu não coloco em lugar nenhum,
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Eu estou meio ausente. De coisas e pessoas. De mim, até. Inerte a dor do momento, mais entregue à confusão do que à qualquer outra coisa. Não consigo pensar em nada, me prender a alguma coisa, nada. Nada me interessa, somente ficar comigo mesmo fazendo qualquer coisa de banal para esquecer essa minha presença incômoda.
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domingo, 6 de novembro de 2011

tempo talvez fosse azul

Recolho alguns pedaços de sonhos no chão para que não se quebrem por completo. Eles ainda trazem um sinal, uma imagem, um algo, que me permite reconhece-los. Guardo-os bem guardados, enrolados, embrulhados, por ora não tenho força para vê-los. Tento apanhar alguns ideais, algumas rebeldias, algumas palavras fortes de momentos precisos. Sinto o coração aflito de tão desacreditado, e depressivo de tão ansioso. Ando mil passos, deitado na cama, jogado no chão, ou caminhando com os pés. Sigo uma ou outra inércia e recostado em qualquer vagão, observo o mundo ruir por completo. Engraçado, o mundo cai aos montes, de prédios a teorias, de carros a hipocrisias. Parece não incomodar ninguém. Meu mundo desaba e ninguém vê. Forço aquele sorriso suficiente ou aquela conversa sem diálogo. Parece bastar. Tento decifrar o convite da vida. Me tranquiliza sua presença, me deixa com uma certeza profunda de que vivo, e que vou viver. Digo: eu quero viver! dentro de um carro temeroso que meus pés me desobedeçam. A vida não anda longe da morte. Toda energia, todo tesão, de toda arbitrariedade que se possa inventar para viver e que possa produzir algum suspiro profundo, ou um sorriso inegável, ou uma certeza inabalável, todo isso tudo, parece me fazer uma charada, daquelas que édipo se fudeu. Ou ele acertou?
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sábado, 1 de outubro de 2011

profissão de dé

Sim, sim, por mais machucado e fodido que a gente possa estar, sempre é possível encontrar contemporâneos em qualquer lugar do tempo e compatriotas em qualquer lugar do mundo. E sempre que isso acontece, e enquanto isso dura, a gente tem a sorte de sentir que é algo na infinita solidão do universo: alguma coisa a mais que uma ridícula partícula de pó, alguma coisa além de um momentinho fugaz.

(eduardo galeano, o livro dos abraços)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

eu acho

não quero morrer não,
talvez explodir
como um bigbang, simplesinho que seja
mas que mande tudo pro caralho
e criam coisas novas.
dessa bomba
eu vire um bando de borboletas
ou sopro de purpurina, ou ataque de riso
ou os incontidos dizeres
dessas bocas comedidas.
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e tudo
que busco
se arrisco
não me furto
corro risco
me voltar
a tudo
que busco
se arrisco
não me furto
corro risco
me voltar
é tudo
que busco
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um samba inventado
no pé
desvia a atenção
de uma dor derrubada
nos olhos
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Achava que o amor, essa coisa
Meio indefinida
Por obra quem sabe talvez de um descuido
Escapasse pra um e o outro viver
Mas amor enquanto ideário
De pobres humanos coitados
Lançados tão bestas à própria sorte
Não parece ser
Possível seja mesmo o abrigo
De solidões mesmos tristes
E por isso mais belas
fosse assim acolher
Corações inábeis e certos
Se arranham as unhas cumpridas da negação
Fingem e inventam um suave sofisma
Talvez amor só exista, na boa, em alguma canção

Eu não quero mais
Viver sem você

Quando acho que quero eu não consigo
Se parece que consigo aí eu já não quero não
Não quero nem um pouco abandonar
Esse ideal
Que tanto mal
Que tanto mal
Que tanto mal

(era pra ser uma música. vai ser ainda)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

tempo

E eu diria: olha, até que sou idealista, bem idealistinha, do tipo brega e esperançoso, mas olha... E você me questionaria primeiro, e depois não sei se algumas lágrimas intrusas ou um sorriso amarelo, coisa do momento, me deixariam confuso, me jogaram novamente naquele abismo, velho conhecido. E eu, só queria ajudar, acabo entrando nesta dança e você me vê assustado, afinal, cada qual com seu cada um. Mas a irracionalidade desta razão louca, de merda, louca de merda, diria, é tão mais evidente do que qualquer sonho singelo de beleza. E não sei se eu ou você disse: tá cada vez mais difícil amar hoje em dia. Daí eu soltava uma frase minha do momento, algo do tipo que todas as pessoas são egoístas e que o egoísmo é a regra do mundo. E você rirá, patética a frase, sim eu sei, mais patética a verdade contida nela. E eu lembraria que a gente é tão solitário, todos nós pequenos seres com medo neste mundo. E o mundo concordou, já farto de tanta maldade e de tanta crueza, e de tanta tristeza. E você tentaria pensar algum lugar onde se refugiar. E eu dissera que hoje em dia há tão poucos lugares para existir, e cada vez existirão menos. E você perguntou se é o meu momento. E eu lembrarei deste longo momento, e mentiria que sim. E você reconfortou, e eu feliz de imaginar o dia que você vai acordar um sorriso, e lembrar dos favores que ele faz. E você diria: seu sorriso vem quando quer. Eu dissera sim, já chorando, e certo que uma coisa esconde a outra. Palhaço, você dizia, o palhaço. E eu não saberei mais quem estava dizendo o quê. E você não queria ficar calado, porque o silêncio é tão gritante de dor. E lembrava que dói. E sentiria a dor. Talvez até sentisse vontade de dizer: ai, como dói. Acho que dissera. E o sonho dirá: eu não consigo abandonar você, ou talvez eu não queira. Quando acho que quero, não consigo, quando acho que consigo, não quero. Se a fantasia de uma ilusão ficasse quietinha, daria mais raiva, porque sempre deu pra entender a eloquência dessa ausência. E eu te abraçava, e você tentando ser lembrada por alguém. Quis perguntar, e eu? E esconderá sua dor, e continuou vivendo. Era o fim da frase que eu diria. Dói, pensei.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

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passeio intransitivo
por qualquer não sido
que me sou.
minha raiz se espalha
ansiosa por tantos lás
,e ao voltar os olhos
vejo somente algumas
cores tingindo certa
parecença do meu corpo.
fluxos e formas se intrometem
baralhadas
tudo parece dançar
como me desejando fazer
um convite.
não entendo as palavras
que não se pronunciam.
sinto-me encontrado, porém.
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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

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aquilo de ver o mar me viu tanto
por dentro e fora que me assemelhou,
aquilo de brincar de energia toda
toda intensidade me acendeu,
aquilo de enojar e gostar e ponderar.
aquilo de ver algumas malhas
tecidas em mim ou palhas pisadas
em tantos outros, me doeram também.
aquilo de desnudar algumas partes
da cabeça e do corpo
ser penetrado por tantos sóis
e aquecer tantos desejos,
aquilo que vivi ai trouxe um pouco
de saudade do que sou.
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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

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Fazer sexo como
quem faz guerra,
amar como se dispusesse
à guerrilha armada,
a solidariedade colérica
dos que odeiam a
negação da vida,
abraços e beijos explosivos,
risadas kamikazes, infiltradas
nas multidões,
o poeta com a serenidade
sóbria e
urgente de um terrorista.
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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

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essa merda de neurose
vezenquando vira
neurose de merda
uma bostinha inofensiva, coitada.
sinto um poder tão heróico
de não ligar. Nem ligo. Oh que pequenez.
Um brinde ao alcool
ou qualquer psicoativo safado,
a quem, na verdade
pertence o mérito da rasteira.
vezenquando é obra
de um por-do-sol
,e com isso digo apenas
lances significativos da vida,
que carecem de sensibilidade -
isso minha neurose tem de sobra.
E quando acontece
dá pena dessa pulsão de morte
demodê pulsão de morte.
Nem doer dói.
Fica lindo,
a gente brinca de aprender
com a vida.
isso minha neurose tem de falta.
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