quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

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Eu acordei com a cor de ontem na boca.
Tava todo inscrito, como uma bíblia. Malograda.
Quis sentir a beleza de ser um avesso em sentidos.
Não era um dia ainda completo em início,
e um grilo indefinível cantava uma minha solidão.
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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

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dorme bobo
menino louco
de paixão
que arde
solidão
que tarde
se esvai, que vai
e volta
prende e
solta.

pensa: nunca!
sabe sempre
que nem
é assim
que não
é o fim
que torna! e
retorna para
casa
e abrasa
a cama
e abraça
a dama
perdida
de si mesmo.

perdeu
de sonhar
sumiu
de querer
realizar
mesmo que
ínfimo
contar
mesmo que
íntimo
seu segredo
com sorriso
de canto
com alívio
do pranto.

se cobre
com manto
em sonho
ele some
e dorme
e pronto!
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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

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Tenho saudades do tempo
antes deste tempo
de não me ser

sinto falta
de uma falta pura
antes da loucura
de não saber

tenho sido
raptado
por lembranças
criadas
descosturado
por uma saudade
inventada.
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eu sou bem feito
nesse social
mascarado em etiqueta
modelado
em piada
e balelas retóricas
de bar

sou adequado
ao modo
como lida
a moda
como dita
a regra

eu sou bem
concreto
dialógico
um ato ilógico
de concordância

de resto
de dentro
é objeto escuro
cena obscena
sujeito à esmo
intocável
e indizível
eu mesmo.
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o amor está
tão em voga
e eu fico
em voltas
com você
sem saber
nem poder

arriscaria
um ataque
se não tivesse
tantas defesas.
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os seus pelos
brincando sobre meu corpo
comunicando
um conteúdo latente
uma mensagem indecente
que sua boca
não ousa
que sua palavra
não sabe
e esse pequeno
choque
causado pelo atrito
amaciado
dos seus pelos
abala o querer
cansado
e o pesar
ousado
do meu modo
de mim.
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Correu, feito boba. Rindo um riso que não segura e que envergonha quando normal. Daqueles ruidosinhos. Correu, os braços batendo contra o corpo com o desajeito incomum. Tropeçando poucos sem cair, o que a fazia rir mais ainda. Fazia como quando o olhar escandalizado e normatizante de outrem não tem a força necessária para nos auferir, por mais que tente. Rememorava alguns detalhes desimportantes. E vagueava. Foi-se assim por total. Chegou arfando ares de plenitude e buscando um modo de entrar em casa. Não conseguia esconder seu sorriso.
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não venha com essa
desculpa
me falar em redenção

sexo com culpa
pode também
causar um bom tesão.
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um poema tem sonoridade
uma música
que lhe doa
a qualidade

a palavra tenta
em diversos
mas não consegue

esta noite, por azar
uma marcha fúnebre
me persegue
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não sei de onde
esse apreço pela rima
se não tem sido isso
que a vida ensina
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terça-feira, 6 de maio de 2008

demônio de mil faces

e sempre nas proximidades
das minhas fronteiras
inicia-se o som
o ruído movediço de seus tambores
e o tom enebriante de sua voz.

demônio, que fazes?
por que me prendes
em cela de flores?
qual tua nova face?

teu discurso caquético
penetra jovial
violento, sensualmente frenético

demônio, que fazes?
em teu alforje
un novo mantimento forjado
um maná ardido,
santo, envenenado

então, fazes teu circo
guarda teus aplausos
recolhe teus choros, minhas velas
e,
nas proximidades
das minhas insanidades
te refazes
e somes com todas as tantas
demais faces
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terça-feira, 8 de abril de 2008

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o girassol
bobo-sorria
pomposo
amarelando
meio paixão, meio flor
achou
seu van gogh

"era inveja
de quê, pai?
da monalisa,
era inveja"
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domingo, 23 de março de 2008

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E se eu fosse esse ladrão mesmo
e outro
sem abraço ou pontapé
ser somente esse mesmo: outro
ou essa puta, uma outra honrosa
ou essa suja, mesmo outra vaidosa
e se fosse essa inércia
assim mesmo, boa condenada, essa inércia
esse preto lutante, normal
militante, se outro
um branco ignorante, ou outro
se eu fosse esse lanche, rápido
de outra digestão
e se vomitasse do belo, da flor
e reconhecesse do abençoado
horror
se eu fosse essa mesma bosta
em outro cheiro, por outra cor
ou essa aposta
sem perdedor, uma bossa, sem cantor
se eu fosse o outro
do que sou
e mesmo esse
pudesse ser assim
somente um ser
possível
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Podia-se inventar
amantes de aluguel
não só da carne
devido ao dispêndio
devido ao trabalho
de amante mesmo
de amador
daqueles bom fingidor
que me ache sol
me chame deus
me invente um amor
me precise seu.
Amante assim
com bom contrato
considerável honorário
disponível horário
sem preocupações
por decência
e duração
ao prazo da carência.
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eu sabia que quando chovia
era dia de bolo
de chá e de preguiça...
a gente cresce
e desaprende coisas
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quarta-feira, 12 de março de 2008

Enfim, um momento

Como se amar
ainda se nos aparecesse
tão simples e responsável,
como escolha.
E se a ausência,
um pequeno descuido
do regular,
tirasse as penas, o peso.
Então,
ignorantes de nossa própria dor,
fez-se um beijo.
Era, somente.
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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

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Quando não sei o que fazer,
escrevo.
é o que me faz dizer sem ter dito,
fazer sem ter feito.
uma catarse boba qualquer.
E escrever,
que por um lado é um decreto de ausência
desse todo ao que não pertenço;
das ordenações mundanas, alegrias
festas, flertes e o mais que represente
os significados das coisas;
também celebra muinha filiação
neste universo tão solitário e confortante.
é como se meus desvios
fossem minha salvação
neste ato, escrever
onde me puno, me consolo, me invento,
me mato, me troco, me liberto
é também
o lugar onde eu me sou.
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sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

amor

Se eu pudesse lhe dizer algo, diria:
me ame
me beije, me transe
me deseje.
Se lhe dissesse algo, seria:
se rasteje, sofra, chore
implore,
se cubra da indiferença.
se fosse lhe fazer algo
te abraçaria
sem perguntas
te arrastaria para meu quarto, minha alma
minha cama, sem licença.
se me perguntasse algo, responderia:
não! Não, sem porquê
mas sim, se eu desejasse, e sim
porque deveria, e não porque não sabia,
talvez, Tente.
Se eu desse algo, seria:
dor, embrulhada
insegurança recalcada
paz em beijos, abraços
castigos e punições, até implorar perdão.
enfim, o perdão.

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