sexta-feira, 15 de outubro de 2010

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São coisas escritas ao léu de um céu onde não cabem estrelas. O lance do céu era só pra aproveitar a rima mesmo. A substância não ajuda somente na instrospecção mística. Ajuda um pouco a evidenciar ocasos e banalidades. O lance dos ocasos e banalidades era só pra usar essas palavras legais. A gente realiza o desejo como pode. Uns escrevendo. Outros realizando mesmo. É só essa inabilidade que me pega. Esse medo que me paga! É só essa pequena promessa sussurada por deuses entediados que me atrapalha. Nada! Poderia trocar esse mundaréu de palavras por algumas poucas e certeiras.
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Dessa vida
eu conheço as folhas
caídas em cada outonação
sonoras distoantes
não sabem idiotas
que mi bemol não geme
só de pedir
reconhecem algum
desejo
avisa eu o povo de lá
quando chegar.
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Ás vezes me acomete uma inteligencia no corpo. Sinto compreensões bastante esclarecedoras passando pelos meus rins, alojando-se em algum musculo, membro, até no apêndice, enquanto ele ainda existir em mim. Não saberia elocubrar essas manifestações, nem tenho habilidades para representações. Busco em meu vocabulário de três ou quatro palavras e nada parece envolver. Não precisa de sentido. É poesia passando.
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Tá, somos neuróticos
obssessivos, auto-piedosos e tal
tá, ao contrário
de entender ou de nominar
ou de analisar e
de caminhar essas inercias todas
como fazer disso uma coisa linda,
criativa, singular?
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sábado, 31 de julho de 2010

alguns antigos...

ame sem saber o que
nem onde
perca-se do porquê
sem face ou motivo
camisa ou sentido
quando se ama
é porque a
contradição
da gente
está do lado de lá
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me seria árvore de folhas
se pudesse
muitos galhos para passarinhos
folhas verdes, amarelas
folhas, inhos
e muita seiva desejada
forte, bruta
lambuzada
se preciso
me outonaria de tristeza
acabada, despencada
se visse logo bobagem! me
afloraria
bela e sombreante
a todos deixaria trepar
recostar
seria assim
ninhada
tranquila
toda orgulhosa
toda árvore
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. (tem mão da laura aqui)
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na dor
tem um pouco
de vaidade
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onde está a menina
da poesia?
Rindo no canto
presa na dança
escondida em pranto?
Na ocasião em que a norma perdeu

onde está a poesia
da menina?
Na parede de vista pra todos?
No caderno
no ideal dos rabiscos?
No céu, como um pássaro
que é solto?
No lugar onde sentido se foi

onde estará a menina
da poesia?
A menina
na poesia
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Um toque
casual, acidental
permitido, social
é o mais perto
que posso
de você
uma palavra
ato falho
ou burrice
é o mais perto
do conforto
de você
bobeira, coisa aqui
e lá
tem tanta luz
escondida.
tem tanto de você
na minha mente
que não penso em nada
que você não
lá esteja
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sexta-feira, 30 de julho de 2010

A ultima ceia (segundo um discipulo qualquer)

1.1 Começou como um ritual. Pão e vinho, sobriedade e formalidade. No fundo, uma dor de despojo e de incompreensão do destino trágico. Pensava ainda que o sagrado reside nos flagelos.
1.2 Ele chorou!
1.3 Depois conteu o resto do choro, que viria com descontrole, e calou-se, pronto a degustar seu sacro fardo atribuído. Vinho era outra coisa na época
1.4 mas embriagava igual.
1.5 Pão era pão mesmo.
1.6 Faltava uma erva, um tomate, uma azeitona. Algum judas gritou tudo isso e outro pedro foi buscar. Mulheres carregando sacolas de feira entraram e mudaram o ambiente. A esta altura todos alterados pelo vinho, dando um sentido especial para aquele banquete, como entenderam oculto no convite do mestre. Um outro joão lembrou da música, e chamou mais gente para tocar. Pasaram a dançar, cozinhar, conversar, jogar. Outro judas paquerava alguma maria e uma maria ensimava a picar os legumes como uma mãe. Aquilo virou um desordem, das mais deliciosas, capazes de ensinar qualquer cristo um sentido real de salvação.
1.7 Ele mesmo entregou-se por completo, e queria participar de todas as rodas e todas as conversas como só um deus saberia. Estava tranquilo agora, especialmente porque sabia que não acabaria o vinho.
- Precisamos fazer mais disso!
1.8 Não seria a última.
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domingo, 23 de maio de 2010

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Era uma noite tão dele. Não quis sair com os amigos, não quis vestir-se. Não quis sair de casa. O céu anunciava estrelas escondidas e a lembrança de uma lua. A casa estava tão vazia quanto seu coração. Era uma noite tão dele. Não sabia se deitava no sofá. Se lia um livro. Se assistia algum filme qualquer na tv. Fumava aos cantos, e andava aos montes. Ia de quarto a quarto, cozinha, sala, tudo, tudo. Pensava em reter tudo. Recebia benção de uma energia triste e cambaleante que passeava por ali. Quis escrever alguma coisa. Não sabia por onde começar, nem o que dizer. Experimentava o vão do ser. Não é possível gritar no vácuo. Sabia que era uma noite sua. Indefinível como deveria ser.
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Teu getsêmani
tão meu
tuas marcas
são minhas
este cálice
me embriagou
de tanto
que santo nenhum
me veja e não
compadeça
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se eu fizesse esse contrato ato com você cê ficaria ria de mim? Se pudesse esse se pude... Quisera era eu e você cê pensou sou já isso nisso? À tarde arde como fosse compensar pensar que outrora ora era livre ora não era minha oração. Matei atei em ti titã tã-tã-tã-tã nada detonada somente mente só para mim ficou ou eu vi vivinho da silva va embora ora. Vai esvai se ex se não hão se cê ser. Ponto, to pronto onto lógico que to o que espera era mais ais de um triste poema ema ema que dilema esse cada qual com seu eu problema. Aqui a sina assina aqui!
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terça-feira, 18 de maio de 2010

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de leve
esse vento forte
cobre meu teto de arrepios.
entre desvarios
procuro o norte
desse barco além.
Ai, que louca
essa viagem
de ser alguém.
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podia uma energia
etérea uma nuvem
astral uma força
imaterial uma coisa
metafísica que ninguem
explica faça
assim faça
assado faça
algo por mim
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domingo, 16 de maio de 2010

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Deita que hoje estou antropofágico
que vou comer seus olhos
lamber seu cabeça
morder sua boca!
deita que hoje o sexo
vai ser no corpo
entra que o gozo vai estar fora
envoltos nele, nos mastigaremos
degustaremos os gostos
e regurgitaremos os amargos
desnuda que o quarto
vai ser agora altar
que a imundícia da carne
será nosso teatro
que a pureza será nossa arma
deita que nos comeremos esta noite
e amanhã
digeridos
nos veremos diferentes
quem sabe
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sábado, 8 de maio de 2010

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Tenho que deixar essa mania de comunicar as coisas pela poesia. O que sou, o que de fato sou, está escrito. Meu corpo traz inscrições, minha palavra apenas enuncia alguns grunhidos desastrosos. Conhece mesmo a ti. Mesmo, ao menos, o que mesmo assim és. Mesmo não podendo dizer de tudo o que grito por dentro, sou assim mesmo. Quando das minhas palavras eclodirem pernas para alcançar, ou braços para tocar, ou existentes beijos para fazer coisa qualquer, algo seria compreendido. Meu mundo é pequeno, do tamanho daqueles que lêem poesias.
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quinta-feira, 25 de março de 2010

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Quis por um instante beijá-lo. Calar palavras, que tanto os aproximava quanto os colocava em universos diferentes, e simplesmente beijá-lo. Inventou um conflito. Nem sabia se queria essa banalidade objetivada, idiota, idiota, mas tão humana (talvez mais humana ainda por criar arrependimentos). Experimentou o inutil recurso ao lapso significante. Nenhuma palavra havia que pudesse demarcar. Pensou no desespero das coisas que não são e, por um instante, pareceu tão lindo não ser. Um cara muito foda falou isso. Mas tem coisa que a gente sempre tangencia, nunca adentra de fato. Tem coisa que é indizível, tem coisa que é indefinível, tem coisa que é isso mesmo, porra. Tinha um samba no fundo.
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domingo, 21 de fevereiro de 2010

Que angu é esse?

Hebraico, grego, latim, inglês, alemão, francês, espanhol, tupi e o vernáculo:
De nada me adianta saber a língua dos homens e a língua dos anjos
Se eu não souber compreender o angu

Que angu é esse?
Será que me pede alguma coisa?
Dendê, banho, fralda ou pepeu?
Naninha ou o colo que é todo seu?

Que angu é esse?
Será que me quer agradecer?
Pelo cuidado e amor
Que tenho a lhe oferecer?

Que angu é esse?
Será que quer conversar?
Me falar de seu dia
De seu choro e de sua alegria?

Que angu é esse?
Será um conselho que tem para me dar?
De algo que sabia quando criança,
Mas que agora esqueci de me lembrar?

Que angu é esse?
Seja como for,
A minha pequena me ensina
A não esquecer a língua do amor!



Leandro Proença
(meu irmão de várias coisas, até de sangue mesmo. ele é um poeta da vida, desses que olham pedra e vêem poesia. hoje em dia, um de seus maiores poemas é sua filha laura, minha sobrinha)