sábado, 11 de julho de 2009

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O que foi? Seu o que foi a irritou mais ainda. Não sei por que insiste. Não quero falar. Sobre isso, talvez. Nada, tá tudo bem. Não entendo. Nunca entendo, merda. Às vezes, tenho a impressão de que ela reage por oposição. Se me interesso, ela foge, nega. E o contrário, e o contrário. Seus pensamentos encontravam lugar e tempo. Estavam basicamente em silêncio. Ela, encostada no canto mais próprio de ser canto, no sofá. Como se acuada. Ele, recém-chegado, sentado no braço do sofá. Como se preocupado. Coitado! Tá preocupado. Mas não vou posso, nem quero responder. Significaria, para ela, naquele instante, criar uma sentença compreensível. E mais. Mal sabia o que se passava. O que é isso que se passa? Tenho vontade. às vezes, de agarrá-la tão forte, como se isso pudesse tranqüiliza-la. Ao mesmo tempo em que se irritava. Porra, será que ela pensa que devo adivinhar tudo, sempre?! Quer fazer alguma coisa? Dar uma volta, sei lá... Fez não, com a cabeça. Depois uma leve culpa a motivou melhor. Não, mas brigado. Tô pensando um pouco, só isso. Pensava demais. Pensava sobre o ideal do encontro. Quis sempre viver com se algum modo de encontro existisse. Que independesse de traços concretos, comuns. Fosse assim, algo inexplicável. Passou a compor em pensamento. É como um descuido do regular, dos deuses burocratas. Como houvesse um pleno, ocasião fugidia, sem palavras. Ele passou a lembrar de coisas que o incomodava nela. Caminhava por aí. Louça suja, roupa no tapete, bebedeiras exageradas, coisas, coisas. Sempre sonhou, assim meio ao certo sem saber, com um encontro assim. Como se em certo desenho cósmico, houvesse a fusão de átomos completos que criasse um sentido total. Como se não importasse o nome, o rosto, o sexo, o corpo. Como se não precisasse ser toque, ou sexo, ou beijo, ou tapa. Mas algo que pudesse fazer sentido, um sentido tão visceral, tão primitivo, que perdesse valores, perdesse a ética, perdesse a forma. Pudesse ser qualquer coisa assim intransitiva. Vamos fazer algo pra comer? Ele ainda pensava. Cabelos no ralo, ciúmes, ronco. Tá na hora, né?! Ser humano é realmente algo solitário. Vinho?
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segunda-feira, 6 de julho de 2009

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(cartaz de Andy do filme "Querelle" Warhol)



meu desejo delinquente
ainda longe de querer
algo que, francamente,
deveria ser.
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como sempre
me toca
como nunca
como se fosse
diferente
como se
sentisse
como eu.
Essa ilusão
insurgiria
como nova
assim como
um ingênuo
pensando em
como ser feliz.
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