domingo, 23 de março de 2008

...

E se eu fosse esse ladrão mesmo
e outro
sem abraço ou pontapé
ser somente esse mesmo: outro
ou essa puta, uma outra honrosa
ou essa suja, mesmo outra vaidosa
e se fosse essa inércia
assim mesmo, boa condenada, essa inércia
esse preto lutante, normal
militante, se outro
um branco ignorante, ou outro
se eu fosse esse lanche, rápido
de outra digestão
e se vomitasse do belo, da flor
e reconhecesse do abençoado
horror
se eu fosse essa mesma bosta
em outro cheiro, por outra cor
ou essa aposta
sem perdedor, uma bossa, sem cantor
se eu fosse o outro
do que sou
e mesmo esse
pudesse ser assim
somente um ser
possível
.
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Podia-se inventar
amantes de aluguel
não só da carne
devido ao dispêndio
devido ao trabalho
de amante mesmo
de amador
daqueles bom fingidor
que me ache sol
me chame deus
me invente um amor
me precise seu.
Amante assim
com bom contrato
considerável honorário
disponível horário
sem preocupações
por decência
e duração
ao prazo da carência.
.
.
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...

eu sabia que quando chovia
era dia de bolo
de chá e de preguiça...
a gente cresce
e desaprende coisas
.
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quarta-feira, 12 de março de 2008

Enfim, um momento

Como se amar
ainda se nos aparecesse
tão simples e responsável,
como escolha.
E se a ausência,
um pequeno descuido
do regular,
tirasse as penas, o peso.
Então,
ignorantes de nossa própria dor,
fez-se um beijo.
Era, somente.
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