1.1 Começou como um ritual. Pão e vinho, sobriedade e formalidade. No fundo, uma dor de despojo e de incompreensão do destino trágico. Pensava ainda que o sagrado reside nos flagelos.
1.2 Ele chorou!
1.3 Depois conteu o resto do choro, que viria com descontrole, e calou-se, pronto a degustar seu sacro fardo atribuído. Vinho era outra coisa na época
1.4 mas embriagava igual.
1.5 Pão era pão mesmo.
1.6 Faltava uma erva, um tomate, uma azeitona. Algum judas gritou tudo isso e outro pedro foi buscar. Mulheres carregando sacolas de feira entraram e mudaram o ambiente. A esta altura todos alterados pelo vinho, dando um sentido especial para aquele banquete, como entenderam oculto no convite do mestre. Um outro joão lembrou da música, e chamou mais gente para tocar. Pasaram a dançar, cozinhar, conversar, jogar. Outro judas paquerava alguma maria e uma maria ensimava a picar os legumes como uma mãe. Aquilo virou um desordem, das mais deliciosas, capazes de ensinar qualquer cristo um sentido real de salvação.
1.7 Ele mesmo entregou-se por completo, e queria participar de todas as rodas e todas as conversas como só um deus saberia. Estava tranquilo agora, especialmente porque sabia que não acabaria o vinho.
- Precisamos fazer mais disso!
1.8 Não seria a última.
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2 comentários:
é...como "baquetes" a lá zé celso...não completamente, porque nem as dele são...mas a la poesia, a la desvio, com medo e tudo.
Delícia.!
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