Um lobo. Tentou alcançar mesmo que ínfimo a dor de ser esse avesso. Porra, estava tão imerso em suas mundanidades, em suas pulsões. Nem podia, nem conseguiria. Você estava assim, tão pelado diante das minhas fugas. Tinha uma sincera compreensão de que esse assunto é coisa de outra norma. Um lobo. Livre, e dito com ar da maior obviedade possível. Coberto de realezas, ritualizado pro saberes primitivos, constituintes do nosso rim e das nossas tripas. Um olhar estranhado, gritando a incompreensão dos nossos modos. Celebrando uma volta para as danças histéricas, para os risos grotescos, para os fogos inconsequentes. Era lindo em meu sonho, negro todo, sagrado. Me sussurrava a mensagem dos descaminhos, e sem medo de misturar um tudo. Ai, me senti com tesão, e com a maior vergonha do mundo por ver meu pinto duro na ocasião mais religiosa que já havia experimentado.
Era um sonho. E na sua cama vivia a concretude da vigília. Um lobo. Apropriado das sentenças que o deus cristão me impunha, tangendo a liberdade que os demônios pagãos me apontavam, e vendo que tudo é tão controverso. Se o lobo tivesse fala, eu gritaria meu lugar.
O lobo não conhece meu vocabulário pequeno, talvez por isso chamou livre meu lobo. Meu lobo é qualquer coisa inventada, é loba, é loba, e tão macho em toda a imundícia histórica que esse barba azul tenha, e tão condenada quanto essas bruxas mulheres inadequadas, e tão incapazes quanto estes doentes, e tão fraco e tão burro quanto essa gente, e tão arrogante quanto o melhor de todos deveria semculpa ser, e tanto mais tanto mais diga. Sofre as penas de ferir a todos com as garras de carinho, de viver nos zoológicos relacionais, de ser maucontado por aqueles de bem. Que delícias ser livre. Saberia que todo meu grotesco é tão rude como a maciez de uma flor. Que meu hálito podre é como bálsamo de alívio, que minha insaciável fome canibal é altar de expiação, que meus dentes caninos seriam tão felinos em amores sinuosos, que minha floresta soturna seria a okupação daqueles que não tem medo de abraçá-lo.
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