um dia assim normal
me barbear, normal assim
olhei no espelho
e disse, meu desejo:
traí você!
como um corno
apropriado
não resisti
com quem? Com quem?
Insisti
nem devia querer
não sei se susto
ou ausência, vai saber
disse
direto, meio seco
foi somente:
com você!
.
.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
...
seu quente é diferente
me traz calor
que é indecente
e completante, e muita coisa
e o leve toque
de um dedo em seu
dedo
é mais que o sexo
de um outro qualquer
por mais que o seja
por mais que o tenha
lugares trocados
esse meu ser
onde o tudo, quase nada
de outrem
me faz seu nada
tudo, tudo
e mais além
.
.
.
me traz calor
que é indecente
e completante, e muita coisa
e o leve toque
de um dedo em seu
dedo
é mais que o sexo
de um outro qualquer
por mais que o seja
por mais que o tenha
lugares trocados
esse meu ser
onde o tudo, quase nada
de outrem
me faz seu nada
tudo, tudo
e mais além
.
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segunda-feira, 8 de outubro de 2007
...
Quando eu nasci um anjo tarado
me visitou
assim meio pelado.
Cheio de luz, e com músculos,
esse ser alado.
Me destinou, me deu uma bossa
Soltou a profecia
com voz grossa
Disse assim: um desviante!
Eterno torto amante
sem gosto para o possível,
perversão em alto nível.
Me falou o ser danado:
Vais te ser,
ingênuo safado.
Com coração escrito:
Frágil!
Com desejo escrito:
Trágico!
E amenizou, negando maldade
Chamou também de santidade
Me pegou feito um herói.
Não resistiu, o go-go boy
Veio me beijar o traseiro
mas lambeu o corpo inteiro.
E se foi, pelo quintal
Com as asas, a luz
e a sunga angelical.
.
.
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me visitou
assim meio pelado.
Cheio de luz, e com músculos,
esse ser alado.
Me destinou, me deu uma bossa
Soltou a profecia
com voz grossa
Disse assim: um desviante!
Eterno torto amante
sem gosto para o possível,
perversão em alto nível.
Me falou o ser danado:
Vais te ser,
ingênuo safado.
Com coração escrito:
Frágil!
Com desejo escrito:
Trágico!
E amenizou, negando maldade
Chamou também de santidade
Me pegou feito um herói.
Não resistiu, o go-go boy
Veio me beijar o traseiro
mas lambeu o corpo inteiro.
E se foi, pelo quintal
Com as asas, a luz
e a sunga angelical.
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terça-feira, 21 de agosto de 2007
livrete de perguntas
por que nerudar tanto?
qual a distância precisa entre ideal e real?
qual é o vício do pleonasmo?
a razão desconhece os motivos do coração por que é ignorante ou por que não quer?
como dois mundos solitários podem se encontrar?
como duas dores diferentes podem se massagear?
como dois gozos conflitantes podem se satisfazer?
a gente fala por que não consegue calar?
eu sou neguinha?
vai doer?
.
.
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qual a distância precisa entre ideal e real?
qual é o vício do pleonasmo?
a razão desconhece os motivos do coração por que é ignorante ou por que não quer?
como dois mundos solitários podem se encontrar?
como duas dores diferentes podem se massagear?
como dois gozos conflitantes podem se satisfazer?
a gente fala por que não consegue calar?
eu sou neguinha?
vai doer?
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terça-feira, 19 de junho de 2007
...
nasci um ser falado
nasci passivo
do falar
foi ser falante que disse
- haja luz!
E nasci
Me falaram e me sou...
.
.
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nasci passivo
do falar
foi ser falante que disse
- haja luz!
E nasci
Me falaram e me sou...
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nos dias de criação
(Vista do teto da Capela Sistina, projetada por Michelangelo)
nos dias de criação foi assim
foram árvores, plantas, peixes
e mais
foram sol, lua, nevoeiro
e mais
foram tempo, terra, terço
e mais
foram homem e homem
mulher e mulher
e mais
foram acento, vírgulas e pontos
perguntas, respostas e idéias
e mais
foram espaguetes, chiliques e sushis
mingaus e fomes
e mais
foram tábuas e leis
e mais, demais.
Ademais foram árvores do bem
e do mal
e mais...
nos dias de criação foi assim
foram árvores, plantas, peixes
e mais
foram sol, lua, nevoeiro
e mais
foram tempo, terra, terço
e mais
foram homem e homem
mulher e mulher
e mais
foram acento, vírgulas e pontos
perguntas, respostas e idéias
e mais
foram espaguetes, chiliques e sushis
mingaus e fomes
e mais
foram tábuas e leis
e mais, demais.
Ademais foram árvores do bem
e do mal
e mais...
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...
Navegar, viver, escrever
Nada é preciso!
Se é somente querido
Desejado.
Da necessidade
Tirem-se as penas
Deixem apenas as razões
Os motivos
.
.
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Nada é preciso!
Se é somente querido
Desejado.
Da necessidade
Tirem-se as penas
Deixem apenas as razões
Os motivos
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quarta-feira, 23 de maio de 2007
...
toque
...
noutro dia voei
sobre telhados
e homens telhados
vi os sobres da maldade humana
vi os pódios de toda vaidade construída;
vi as birras das mães aflitas
e os broncas das malcriações;
vi os cofrinhos quebrados
e os quebrados cofrinhos;
vi as inocências dos pedófilos
e as libidos dos abusados;
vi os suores das freiras
e os onanismos dos padres;
vi as televisões e carnês,
felizes e custosos;
vi os pagodes dos intelectuais,
e os cafés das menininhas;
vi as disfunções dos garanhões
e os pudores das prostitutas;
vi o cú das esposas dos medievais,
e as diarréias dos cristos.
noutro dia voei
sobre destelhados...
... me caiu uma telha!
.
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sobre telhados
e homens telhados
vi os sobres da maldade humana
vi os pódios de toda vaidade construída;
vi as birras das mães aflitas
e os broncas das malcriações;
vi os cofrinhos quebrados
e os quebrados cofrinhos;
vi as inocências dos pedófilos
e as libidos dos abusados;
vi os suores das freiras
e os onanismos dos padres;
vi as televisões e carnês,
felizes e custosos;
vi os pagodes dos intelectuais,
e os cafés das menininhas;
vi as disfunções dos garanhões
e os pudores das prostitutas;
vi o cú das esposas dos medievais,
e as diarréias dos cristos.
noutro dia voei
sobre destelhados...
... me caiu uma telha!
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eu
(Mulher no espelho, Picasso)
moreno óculos
pixaim escondido-preto
tamanho nem lá nem cá
posições nem lá nem cá
paixões pra lá; de bagdá,
um lugar
[lugar]
sou aventureiro
[de poltrona] e de pesar
no que tange espelhos
sou bipolar
ora beijo ora grito
sou engraçado e difícil
meio pierrô meio bobo; da corte,
o flerte
sou de muitos flertes
e de poucos cigarros
ouço muita música [de fora]
demais não têm partitura
sou assim, meio deus meio bandinha de rock:
o que sou; como sou!
pixaim escondido-preto
tamanho nem lá nem cá
posições nem lá nem cá
paixões pra lá; de bagdá,
um lugar
[lugar]
sou aventureiro
[de poltrona] e de pesar
no que tange espelhos
sou bipolar
ora beijo ora grito
sou engraçado e difícil
meio pierrô meio bobo; da corte,
o flerte
sou de muitos flertes
e de poucos cigarros
ouço muita música [de fora]
demais não têm partitura
sou assim, meio deus meio bandinha de rock:
o que sou; como sou!
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segunda-feira, 21 de maio de 2007
E se pudesse esquecer?
("Brilho eterno de uma mente sem lembranças", EUA, 2004)
Imagino se me fosse possível esquecer coisas ruins. Imagino se pudesse apagar da memória momentos desagradáveis. Coisas ruins e momentos desagradáveis. São como fantasmas. Uma mente livre de culpas. Uma mente sem lembranças. Faria uma lista das coisas a serem esquecidas :
A última briga com minha mãe, As noites-quase-madrugadas em que não queria ir pra casa e sabia, aliás, que não queria um a lugar algum, A foto da menina com choro feio e triste correndo de uma bomba, A penúltima briga com minha mãe, Os urubus apressados da África, A discussão que tive com um amigo de infância por causa de um desfiado em minha camiseta, Todas as brigas com minha mãe, Fogueiras que acendi, gentes que coloquei nas fogueiras e a sensação de realização decorrente disso tudo, Os uniforme listrados que comprei pros não-puros, Papo triste do veado da esquina, O kilo de alimento que não dei, As togas e capuzes brancos que usei pra manter a ordem,
As cruzes cruzadas com espadas que meus ideais santos me batalharam, A abstinência viciada que me dopa, Ópio do povo, sejam eles o que forem, se ópio mesmo ou não, A minha ansiedade, fuga, As noites de dormir cedo, fuga, As carreirinhas, fuga, Aos terços e auto-batismos, fuga, A fuga e toda ela,
Toda noite mal dormida, Todo pau-oco de santo, Todas as meias verdades, e as mentiras verdadeiras de um domingo,
Os Reichs de cem anos, A rosas cancerígenas, O petróleo que achei no quintal do vizinho, O verde de tuas janelas, e o céu cinza, O quarto poder e todo romantismo burguês, O golpe a que dei o nome de revolução, O paraíso que comprei com o paraíso que vendi, As mães das praças de maio, junho, julho, Você,
[Esqueceria ainda] o se e o então, Causa e efeito, A objetividade e seu prefixo pseudo, O meu jaleco branco, Toda a relatividade e a necessidade dialética, O além-físico.
Esqueceria, abandonaria tudo, sim. E, ao fim, sem esquecimentos, não seria mais eu.
Imagino se me fosse possível esquecer coisas ruins. Imagino se pudesse apagar da memória momentos desagradáveis. Coisas ruins e momentos desagradáveis. São como fantasmas. Uma mente livre de culpas. Uma mente sem lembranças. Faria uma lista das coisas a serem esquecidas :
A última briga com minha mãe, As noites-quase-madrugadas em que não queria ir pra casa e sabia, aliás, que não queria um a lugar algum, A foto da menina com choro feio e triste correndo de uma bomba, A penúltima briga com minha mãe, Os urubus apressados da África, A discussão que tive com um amigo de infância por causa de um desfiado em minha camiseta, Todas as brigas com minha mãe, Fogueiras que acendi, gentes que coloquei nas fogueiras e a sensação de realização decorrente disso tudo, Os uniforme listrados que comprei pros não-puros, Papo triste do veado da esquina, O kilo de alimento que não dei, As togas e capuzes brancos que usei pra manter a ordem,
As cruzes cruzadas com espadas que meus ideais santos me batalharam, A abstinência viciada que me dopa, Ópio do povo, sejam eles o que forem, se ópio mesmo ou não, A minha ansiedade, fuga, As noites de dormir cedo, fuga, As carreirinhas, fuga, Aos terços e auto-batismos, fuga, A fuga e toda ela,
Toda noite mal dormida, Todo pau-oco de santo, Todas as meias verdades, e as mentiras verdadeiras de um domingo,
Os Reichs de cem anos, A rosas cancerígenas, O petróleo que achei no quintal do vizinho, O verde de tuas janelas, e o céu cinza, O quarto poder e todo romantismo burguês, O golpe a que dei o nome de revolução, O paraíso que comprei com o paraíso que vendi, As mães das praças de maio, junho, julho, Você,
[Esqueceria ainda] o se e o então, Causa e efeito, A objetividade e seu prefixo pseudo, O meu jaleco branco, Toda a relatividade e a necessidade dialética, O além-físico.
Esqueceria, abandonaria tudo, sim. E, ao fim, sem esquecimentos, não seria mais eu.
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quarta-feira, 16 de maio de 2007
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terça-feira, 15 de maio de 2007
as retiscências
Elas se colocam no meio da comunicação de um e outro. Não no meio, no inside. Elas são atores kabukados. De alegres em tristes, e o contrário, e etcetera. As reticências são a criação alinguística da linguagem. É a quimera lacaniana. É a pedra de tropeço – e de toque – semiótica. A ânsia toda do inconsciente.
As reticências são o gritado do silêncio. É o não-dito e, porém, o que mais fala. É o momento mais eloqüente do discurso e ocorre no silêncio. O rosto corado e encabulado da retórica. É a volta para o macaco. Depois da ida, necessariamente.
Eu as amo. Para ama-las é preciso de olhos. De ouvidos. De sentidos – com toda semântica desejada. De escapes...
Como a árvore na avenida são joão. Como a nona de dó em iron maiden. Como passadeira em fashion week. De tão extravagante, mora no não aparente.
Nos lapsos...
Nos desejos...
Na poesia...
.
As reticências são o gritado do silêncio. É o não-dito e, porém, o que mais fala. É o momento mais eloqüente do discurso e ocorre no silêncio. O rosto corado e encabulado da retórica. É a volta para o macaco. Depois da ida, necessariamente.
Eu as amo. Para ama-las é preciso de olhos. De ouvidos. De sentidos – com toda semântica desejada. De escapes...
Como a árvore na avenida são joão. Como a nona de dó em iron maiden. Como passadeira em fashion week. De tão extravagante, mora no não aparente.
Nos lapsos...
Nos desejos...
Na poesia...
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segunda-feira, 14 de maio de 2007
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